O “Escapismo Escatológico” do Pentecostalismo

Trecho do Livro — “Pentecostalismo e Pós-Modernidade” (página 288 e 289) — de César Moisés Carvalho



“A maioria de nós apela para a escatologia de forma escapista. Uma proposta que, além de desvirtuar o propósito da escatologia, acaba incidindo justamente no contrário do que recomenda Jesus em Atos 1.7, acerca da proibição de se especular o amanhã lançando mão de um perigoso exercício de futurologia.

Lamentavelmente, no transcorrer da história, a escatologia deixou de ser vista como a maior das esperanças daqueles que creem e foram alcançados pelo Evangelho, tornando-se uma fonte de exploração sensacionalista. Por isso, raramente se discutiu o inegável fato de que, antes de se especular acerca dos acontecimentos e mudanças, vendo-os como 'sinais da vinda de Cristo', era imprescindível preparar os seguidores do Senhor para interagir em um mundo que já não era mais o mesmo (Ef 4.11-16). Contudo, diante das mudanças e transformações, o máximo que tem sido feito é prognosticar, dando-se apenas ao trabalho de encontrar um texto para encaixar determinado evento na Bíblia. O resultado é justamente esse que tem se apresentado ao longo dos anos, isto é, sobra especulação e falta atitude.

Tal omissão, além de colocar-nos à margem e obrigar-nos a viver a reboque da história, produz um sentimento pessimista de acomodação: 'Nada pode ser feito'; 'As coisas são assim mesmo', e muitas outras escusas. O problema maior é que o corolário desse pessimismo, ou do catastrofismo escatológico, é justamente a imobilidade mental, social e cultural e até mesmo espiritual. Isto é, além da famosa desculpa de que 'Se o mundo está destinado ao caos, nada podemos fazer', há outra pior, que é aquela que se pretende piedosa: 'É cumprimento da Palavra de Deus, tem que ser assim, pois é sinal da vinda de Jesus'. Nessa lógica impera mesmo que irrefletidamente, aquela ideia de que 'quanto pior, melhor'. Da esperança passamos ao individualismo e ao egoísmo”.


Comentários

  1. Boa tarde, Levi.

    Muito bem colocadas as palavras do autor que citou nesta postagem.

    Embora eu não tenha lido o livro e desconheça a abordagem feita nas 287 páginas anteriores e nas posteriores á de número 289 da referida edição, considero que muitos cristãos (não somente os pentecostais) caem nesse engessamento de acabarem não participando politicamente para mudar os rumos desse mundo.

    Os avisos de Jesus para que seus seguidores se preparassem para a sua volta e vigiassem não significa que tivessem que especular sobre o amanhã. Na verdade, o Mestre alertou os discípulos para que não fossem achados "dormindo" e, envolvendo-se com as coisas deste mundo, ou se acomodando, se esquecessem da construção do Reino.

    Contudo, as especulações escatológicas podem nos levar a nos esquecermos do Reino porque podemos errar não focando na obra de acolher o aflito, divulgar as boas novas e assumir a nossa responsabilidade neste mundo, sem sermos mais do "mundo" (sem compactuarmos com os valores e práticas erradas dos que se corrompem).

    Todavia, iniciou daqui a pouco mais um ano sem falsas expectativas. Com realismo e sem deixar de lado o otimismo, conforme terminei de escrever em meu blogue. E, com todo o esforço que possamos empreender, a razão me mostra que as coisas ainda não vão mudar agora em 2018 de modo que torço tão somente por algum avanço, por mais pequeno que seja, ou que não haja retrocessos.

    Aproveito a oportunidade para lhe desejar um forte abraço e um feliz Ano Novo.

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