Não acredito que escutei a palavra onanismo!



Por Júlio Antunes


Outro dia, um senhor religioso muito idoso chamou a minha atenção para que não fizesse a apologia do "onanismo", sob pena de ir para o "inferno" e que isso seria um "vício próprio dos sodomitas".

Curioso, fui ao dicionário ver qual o significado do termo onanismo e encontrei no Priberam esta definição:

"(Onã, .antropônimo [personagem bíblica] + -ismo)
substantivo masculino
1. Coito interrompido antes da ejaculação.
2. Masturbação masculina."

Como já fui crente por muitos anos, em que até frequentava a escola dominical de uma igreja evangélica, não foi difícil entender o porquê do uso da palavra assim como já tinha conhecimento do significado de sodomia, cuja aplicação aos homossexuais já considerava deturpada em relação à própria narrativa da Bíblia.

De acordo com a lenda hebraica, Judá, um dos chefes das doze tribos da nação de Israel, teve três filhos no seu primeiro casamento. O primogênito, Er,  casou-se com Tamar. Porém, o texto das Escrituras conta que ele era "mau aos olhos do Senhor" e, por isso, Deus o teria castigado com a morte.

Seguindo o costume patriarcal da época, a viúva e o irmão do meio, o tal do Onã, teriam que manter um relacionamento sexual a fim de que o falecido pudesse ter uma descendência. Ou seja, quando ela emprenhasse do cunhado, a primeira criança do sexo masculino seria considerada filho do que morreu e, obviamente, iria disputar a herança de Judá junto com o pai biológico mas que, para fins formais, seria somente o tio do menino.

A grande confusão que se fez em cima dessa história mítica encontra-se nos versos 9 e 10 do capítulo 38 de Gênesis, cuja narrativa assim diz:

"Onã, porém, soube que esta descendência não havia de ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu irmão, derramava o sêmen na terra, para não dar descendência a seu irmão. E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou."

Devido à má interpretação desse episódio da Bíblia é que a masturbação foi associada ao citado personagem e embasada doutrinariamente pela Igreja (São Tomas de Aquino?) como um "pecado contrário à natureza". E olhem que o texto, considerado sagrado pelo cristianismo, nem é claro em dizer se Onã batia uma quando estava na tenda com a cunhada ou tirava o pênis de dentro dela na hora em que fosse ejacular.

Apesar de ser hoje um agnóstico e considerar a Teologia de baixa utilidade para o progresso da humanidade, creio que, nos tempos passados, faltou um estudo dos padres e pastores que fosse imparcial. Até porque não me parece ter sido a punheta e nem o coito interrompido uma conduta má conforme os valores culturais dos antigos hebreus, mas, sim, a recusa em manter viva a memória do irmão falecido, tendo em vista a instituição entre eles do costume que obrigava um homem a gerar filhos para a viúva de seu irmão quando este morria não deixando descendência masculina.

Claro que esse costume também é questionável segundo os valores atuais e, neste sentido, talvez até desnecessário. Até porque seria um absurdo obrigar a viúva de um homem a transar com o cunhado. Aliás, se nem a mulher é obrigada a ter relações sexuais com o marido ou aceitar um matrimônio arranjado pela família, uma situação dessas já não teria o mínimo sentido para os nossos dias onde se reconhece a igualdade de gênero.

Na inauguração de uma nova era científica, de respeito às diferenças, de liberdade sexual, tolerância e paz entre os povos (se é que a humanidade sobreviverá até lá), resta apenas desmistificar toda a estupidez repressiva inventada pela religião baseada em literaturas consideradas sagradas. Por isso, talvez, ainda sobra algo de útil na Teologia e não jogo fora a cultura eclesiástica aprendida no meio cristão.

Comentários

  1. Mas a gente lê num desses livros ,onde diz que se houvesse derramamento de sêmen,bastava se banhar e seria puro.
    Mas,o detalhe é q Jesus não se pronunciou sobre esse tema.

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